Mais uma nova rede social tem ganhado os holofotes em nichos como o empreendedorismo tecnológico e o mercado financeiro: o Clubhouse, focado exclusivamente em conversas por áudio. Criado há menos de um ano, o aplicativo já é avaliado em US$ 1 bilhão e tem 6 milhões de usuários.
Só é possível entrar por convite de alguém que já está usando o Clubhouse. Os usuários acessam salas e podem ou falar ou apenas ouvir conversas de outras pessoas. Não há curtidas, compartilhamentos ou textos. As conversas também não são gravadas ou transcritas.
Empreendedores de tecnologia como Elon Musk e Mark Zuckerberg já fizeram reuniões por meio do Clubhouse. Ao entrar na rede, o usuário escolhe seus interesses – inclusive em temas como startups e venture capital – e vê salas sobre os tópicos pré-selecionados.
Conhecimento, tecnologia e networking
“O que mais me surpreende é a acessibilidade e o alto nível das conversas, que não param durante a madrugada ou nos finais de semana”, diz Livia Cunha, fundadora da startup de saúde Cuco Health, que usa o Clubhouse há uma semana. “Tenho trocado aprendizados com outros empreendedores, ouvido referências no mercado de saúde e criado salas que discutem as dores dos meus clientes.”
Tania Gomes Luz, fundadora da consultoria de marca Girlboss e diretora de marketing da foodtech Green Buddy, também entrou no Clubhouse há alguns dias. “Estou explorando esse novo território e buscando entendê-lo melhor. É uma rede em que você precisa minerar para acompanhar discussões relevantes. Tenho aproveitado para ouvir comunidades empreendedoras mais globais”, diz a empreendedora.
Tania, porém, faz alertas em relação ao consumo do conteúdo. “Não vale ser plateia de gente com conteúdo duvidoso. Minha dica é sempre olhar o LinkedIn dos palestrantes que você segue”, aconselha a empreendedora. “Também só frequente se faz sentido para o seu momento. De nada adianta estar ligado em todas as redes sociais e não ter tempo de aplicar as boas práticas no seu negócio.”
Renata Zanuto, co-head do espaço de empreendedorismo tecnológico Cubo Itaú, usa o Clubhouse há cerca de duas semanas. “Existem diversos temas: qualquer pessoa pode criar uma sala e falar sobre um conteúdo que domina. Eu tenho visto discussões sobre como montar sua equipe, como escalar sua solução e como receber aportes, por exemplo”, diz Renata. “Como apresentadora, participei de uma conversa com diversos empreendedores fazendo apresentações de 30 segundos a investidores. Já como ouvinte, presenciei uma conversa de um fundador de sucesso no Vale do Silício com o Ben Horowitz [autor do livro ‘The Hard Thing About Hard Things’]. É uma forma de acessar debates que antes você só veria em eventos de grande porte, e ainda existe a possibilidade de os moderadores da sala aprovarem um tempo para perguntas.”
Flavio Pripas, um dos sócios do fundo de venture capital Redpoint eventures, entrou no Clubhouse há cerca de três semanas. Ele recomenda que os empreendedores usem a plataforma para avaliar a tecnologia. “O fundador de uma startup desafia o status quo e está sempre testando modelos de negócios e tecnologias. Experimentar uma nova ferramenta é importante.”
Clubhouse tem desafios para ganhar o país
O InfoMoney explicou em matéria anterior que ainda existem alguns obstáculos para que o Clubhouse se popularize no Brasil. O primeiro deles é que o Clubhouse só está disponível para o sistema operacional iOS, dos celulares iPhone (Apple). Quem tem um smartphone com o sistema operacional Android precisa esperar uma nova versão, que o Clubhouse prometeu entregar “em breve”.
Resolvidas as barreiras de acesso, outros desafios serão garantir que seus usuários entendam a rede social e façam uso constante dela. “O risco que o Clubhouse corre no Brasil é o mesmo que vimos anteriormente com o Twitter: as pessoas precisam usar cada rede corretamente”, alerta Tania. “O Twitter foi uma rede pouco utilizada pelos brasileiros por muito tempo, mais voltada para check-ins em aeroportos e restaurantes. Ninguém sabia muito bem como se comunicar por lá, o que é bem parecido hoje com o Clubhouse. Usamos o Twitter muito bem atualmente, expondo opiniões com poucas palavras sobre temas em alta, atingindo muitas pessoas em pouco tempo. Passada essa euforia inicial, veremos a profundidade e o engajamento real do Clubhouse.”
Um último desafio é lidar com a saturação de redes sociais. Facebook, Twitter, Telegram, Instagram, TikTok, Pinterest e muito mais: existem diversos players tentando abocanhar o tempo escasso do usuário. Dentro do ecossistema de empreendedorismo, pelo menos, o Clubhouse conseguiu despertar um primeiro interesse.