A empresa chinesa Xiaomi publicou em sua página oficial do Facebook no Brasil: “Põe mais água no feijão que estamos chegando”. A partir de então, foram postadas fotos da mascote da marca, o coelho de pelúcia Mi Bunny, reclamando da longa viagem de avião entre China e Brasil e tirando uma selfie no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
É assim, por meio das redes sociais, que uma das maiores fabricantes de smartphones do mundo dá os primeiros sinais de que está mesmo desembarcando em um novo mercado. O primeiro anúncio da vinda ocorreu em abril de 2014, quando a Xiaomi divulgou seu plano de expansão internacional.
Desde então, especulava-se sobre quando e como a empresa, que já é a quinta em vendas de smartphones no mundo, chegaria por aqui. “Estamos nos preparando para lançar os primeiros produtos da marca no primeiro semestre de 2015”, disse a EXAME o brasileiro Hugo Barra, vice-presidente global da Xiaomi e responsável pela expansão internacional.
A Xiaomi não confirma, mas fontes do mercado dão como certo que a empresa já assinou contrato com uma fornecedora instalada no país para a fabricação dos telefones — os chineses estariam dispostos a vender apenas produtos montados localmente.
O modelo da empresa fundada pelo empreendedor Lei Jun, o “Steve Jobs chinês”, é criar produtos com processadores, memórias, telas e câmeras comparáveis aos da Apple e da Samsung, mas vendê-los por preços bem inferiores aos praticados pelos concorrentes. Na China, o modelo Mi Note, que disputa o mercado diretamente com o recém-lançado iPhone 6 Plus, custa o equivalente a 38% do concorrente.
Para chegar a esses preços, a empresa costuma vender seus aparelhos apenas pela internet. Cerca de 25% do custo operacional de uma fabricante de celulares está concentrado na área de vendas.
O problema é que, no Brasil, essa estratégia 100% online não é adotada por nenhum fabricante. Aqui, cerca de 80% das pessoas que compram celulares pós-pagos fecham o negócio com operadoras de celulares, na maioria das vezes em lojas instaladas em shopping centers.
É por isso que cresce a expectativa de que a empresa coloque em prática o mesmo modelo que adotou recentemente em Singapura, onde mesclou vendas online com as feitas pelas operadoras. Outra possibilidade é a Xiaomi fazer parcerias com grandes lojas de e-commerce já estabelecidas.
“O produto deles tem um forte apelo para os consumidores mais jovens por causa da boa relação entre qualidade e preço”, diz Frederico Trajano, diretor de operações do Magazine Luiza, dono de uma das cinco maiores lojas de comércio eletrônico do país. Transformar um produto desconhecido em objeto de desejo dos brasileiros, porém, não será tarefa simples.
“No Brasil, 95% do mercado de celulares é dividido entre seis marcas que investem muito em publicidade na televisão, em revistas e jornais. Não vai ser fácil para uma empresa desconhecida aqui brigar por uma fatia desse mercado”, diz o analista Leonardo Muniz, da consultoria americana IDC.
Pelo pouco que disse até agora, a Xiaomi parece não se abalar com essas críticas. Tudo indica que espera repetir aqui o sucesso registrado na Índia, onde estreou em julho. Em uma das vendas relâmpago anunciadas, o fluxo de acessos foi tão grande que tirou do ar o Flipkart, o maior site de e-commerce indiano.
Em outra ocasião, 60 000 celulares foram vendidos em 5,2 segundos. Em menos de seis meses, a empresa chegou a 4% do mercado indiano. Mas nem tudo na Índia foi como o planejado. Acusada de quebrar patentes da sueca Ericsson, a chinesa teve suas vendas suspensas no país. Ambas as partes ainda esperam a decisão final da Justiça.